NOVO MANIFESTO PELA FEDERALIZAÇÃO DOS CRIMES DE MAIO, E FIM DA "RESISTÊNCIA SEGUIDA DE MORTE"

segunda-feira, outubro 03, 2011

CANTO PERIFÉRICO - Rodrigo Ciríaco

As Mães de Maio não temos palavras para agradecer a bela poesia escrita pelo guerreiro Rodrigo Ciríaco, da Cooperifa e do Sarau dos Mesquiteiros, que ele acaba de dedicar a nós Mães. Depois de ouví-la ontem durante o Ato de 19 anos do Massacre do Carandiru, ter ela dedicada a nós é mais que um presente!

Só podemos agradecer muito e dizer que nos sentimos extremamente honradas diante do gesto de um guerreiro como Ciríaco, Professor de História em Escola Pública e Poeta com P maiúsculo, que não cansa de lutar cotidianamente por transformação de todas as injustiças vivenciadas em nossa ingrata sociedade, principalmente pelo povo pobre, preto e periférico. Ele que já tinha engrandecido demais nosso primeiro livro "Mães de Maio - do Luto à Luta" com um belo conto, agora nos oferece mais esta graça!

Não é de hoje que estamos junt@s, Compa Rodrigo, e assim seguiremos cada vez mais!

Você também é exemplo e motivo de grande respeito e admiração por nossa parte!

UM BEIJO NO SEU CORAÇÃO!

FIRMES NA LUTA,
MÃES DE MAIO


Mensagem do guerreiro Rodrigo Ciríaco, da Cooperifa e do Sarau dos Mesquiteiros, em 03/10/2011:

"poema que recitei ontem no Ato Carandiru, 20 anos. Nunca Mais?
gosto do texto e queria dedicá-lo como um presente para as Mães de Maio. com todo respeito.
abraço,


CANTO PERIFÉRICO

dedicado às Mães de Maio
símbolo de luta, dignidade e justiça



Periferia, Periferia...
Peri feria,
Não fere mais
Peri não causa mais azia
Na burguesia
Quando essa ouve Racionais
Quando essa mente ainda mais
Ao dizer que todos os conflitos
Raciais
Classiais
Sociais
Foram deixados lá, pra trás
No século que nem me viu
No séquito que diz que o Brasil
É o pais do futuro
Mas eu pergunto: qual futuro?
Que fruto sobrou pro futuro?
Estará caído podre
Quando podia ser colhido maduro?
Qual o furto feito no palácio
De um prédio nada escuro?
Quem roubou o meu passado?
Quem ainda nega o meu presente?
Alguém aí, sente?
Quem hoje denuncia esta gente?


Periferia, Periferia...
Peri fedia, alguns dizem
Não fede mais
Nem cheira
Hoje queima pedra,
Crack
Na beira do Viaduto do Chá
Enquanto os herdeiros dos barões do café
Continuam a se banhar
Nas margens do rio Tietê
Pô, será que você não vê
Que eles se mudaram pra Pinheiros
E gastaram muita construção
Pra justificar o dinheiro
De uma antiga Águas Espraiadas (Roberto Marinho!)
De uma atual Ponte Estaiada
Que pra mim, na boa
Não serve pra nada
A não ser expor o poder do capital
Esse animal que não sabe olhar pra Peri


Periferia, Periferia
Perimetria disputada
Palmo a Palmo
Tapa a Tapa
Tiros: pá!
De borracha
A dispersar a multidão
Que fechou a rua
Queimou pneus
Ofuscou a lua
Contra a reintegração de posse
E vem, os cão,
Sem vacina
Em posse
Da raiva
E vem, os cão, pra promover
Mais uma chacina
Em posse da carta
Do juiz
Que nos diz:
Que não se pode morar aqui
Que não se pode viver ali na
Periferia


Periferia
E fere
Meus sentimentos
Quando é que Peri vai crescer
E deixar este tormento?
Quando é que a periferia
Vai se tornar o centro?
Não apenas da atenção policial
Quando é que a gente vai deixar as páginas
Do caderno social?
Quando é que a gente será reconhecido
Pelo nosso valor
Cultural
Pelo nosso valor
Ancestral
Pelo nosso valor
Sentimental?
Eu digo, Peri:
Tem que ser hoje
E quem sabe vai ser aqui
Na Periferia



Rodrigo Ciríaco

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