NOVO MANIFESTO PELA FEDERALIZAÇÃO DOS CRIMES DE MAIO, E FIM DA "RESISTÊNCIA SEGUIDA DE MORTE"

terça-feira, maio 25, 2010

TODA SOLIDARIEDADE AO JORNALISTA RENATO SANTANA, DO JORNAL “A TRIBUNA” DA BAIXADA SANTISTA

COMUNICADO DAS MÃES DE MAIO, 20 de Maio de 2010


Nós, Mães e Familiares das Vítimas do Estado Brasileiro, escrevemos aqui na sequência de uma grande jornada de Lutas para manifestar nosso total apoio e solidariedade ao sério e competente jornalista Renato Santana, do jornal A Tribuna de Santos-SP.

Renato foi responsável recentemente, junto aos editores e à redação d’A Tribuna, pela publicação de uma das mais importantes e consistentes séries jornalísticas dos últimos tempos no Brasil, abordando os “4 Anos dos Crimes de Maio” (série publicada entre 25 e 29 de Abril de 2010). Iniciada no dia 25, a sequência de 5 longas reportagens, somada a várias outras suítes e registros, marcou a história do jornalismo investigativo e relacionado à temática dos Direitos Humanos no Brasil. Dentre algumas de suas conquistas, além da retomada de uma temática central para toda a sociedade brasileira (o maior massacre do período democrático brasileiro), as reportagens ainda conseguiram localizar e entrevistar alguns dos agentes destes grupos paramilitares de extermínio (publicando-as sob a utilização de codinomes, conforme garante a legislação específica do jornalismo), revelando à sociedade todo o modus operandi pelo qual eles têm atuado, ao menos, desde 2006. Dessa maneira, além de avançar no esclarecimento deste tipo de prática, certamente contribuiu de forma direta para a interrupção das execuções sumárias em massa que vinham atingindo e voltaram a atingir toda a região da Baixada Santista em abril de 2010.

A série de matérias, com farta apresentação de provas e documentos, veio a comprovar algo que as Mães de Maio e tantos outros movimentos sociais e militantes de DH denunciavam há anos: faltou seriedade e persistência nas investigações e punições dos responsáveis pelos Crimes de Maio de 2006 - os grupos paramilitares de extermínio ligados à Polícia, que seguiram e seguem agindo da mesma maneira há anos. Conforme pode-se conferir abaixo o teor de algumas das matérias, somadas ao desenrolar das pressões políticas e o aprofundamento de investigações, temos certeza de que tal trabalho jornalístico crítico e sério, juntamente com a Luta das Mães e demais militantes dos Direitos Humanos, realmente poupou inúmeras vidas na Baixada Santista e em todo o estado de São Paulo. Ainda há muito o quê avançar, é certo: sobretudo no que tange o Desarquivamento e a Federalização das investigações dos Crimes. As matérias, por outro lado, também reforçam que o recurso de nomear a causa mortis de homicídios cometidos por policiais de "Resistência Seguida de Morte" (assim como "Auto de Resistência"), termos banalizados nos laudos de jovens assassinados pela polícia, têm servido para legitimar um tipo de prática de extermínio: uma artimanha jurídica para facilitar a continuidade de um verdadeiro estado de sítio contra jovens pobres e negros nas periferias das grandes cidades do país.

No entanto, para a nossa revolta – mas não para a nossa surpresa -, o jornalista Renato Santana e o próprio jornal A Tribuna vêm recebendo uma série de críticas e ameaças por parte do mesmo Ministério Público regional da Baixada Santista que se omitiu nas investigações, bem como de alguns setores reacionários ligados à polícia do estado de São Paulo. Com o objetivo de intimidá-los (jornalista e jornal), ambos têm sofrido represálias e ameaças de que estariam fazendo “apologia ao crime” e/ou coisas afins – conforme está inclusive documentado no vídeo da Audiência Pública realizada no dia 14/05/2010 em Santos-SP.

Nós, Mães de Maio, nos perguntamos: quem é que está fazendo apologia a práticas criminosas e assassinas, e a desvios de condutas que se tornaram regras entre os agentes do estado e os grupos paramilitares de extermínio associados a eles? Por que tentar intimidar e interromper um trabalho jornalístico tão sério e corajoso, cujos frutos estão aí para quem quiser ver?

Desde já anunciamos enfaticamente que tanto o jornalista Renato Santana, quanto o jornal A Tribuna, têm e terão todo nosso apoio e solidariedade no que tange a este sério e importantíssimo trabalho jornalístico que já marcou a história da imprensa brasileira contemporânea – aliás, uma imprensa que raramente ousa fazer este tipo de trabalho com qualidade. Deveremos apoiá-los, inclusive, para que ganhem todos os prêmios possíveis relacionados à prática do jornalismo sério e ligado à temática dos Direitos Humanos, como o Prêmio Vladimir Herzog.

Pautamos e convocamos a todos os jornalistas e orgãos de imprensa que façam jus a este nome, que também se solidarizem e denunciem estas tentativas de cerceamento de um trabalho legítimo e extremamente qualificado, que tem contribuído para fortalecer os Direitos Humanos no estado de São Paulo e no Brasil. Não é possível ficarmos calados diante deste tipo de cerceamento que, na verdade, configura tentativa de censura da pior maneira possível.

Seguiremos atentas a qualquer tipo de intimidação e pressão no sentido contrário à Memória, à Verdade e à Justiça: prontas a manifestar toda nossa solidariedade, apoio, e agir de maneira prática, por meio da luta política, com o objetivo de defender todos e todas aquelas que lutam por estes ideais de Liberdade!


FIRMES NA LUTA!
MÃES DE MAIO



http://www.sjsp.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=2809&Itemid=1


Jornalista que denunciou grupos de extermínio na Baixada Santista sofre ameaças
21 de maio de 2010


O jornalista Renato Santana, de A Tribuna de Santos, além de sofrer ameaças de morte, também está enfrentando pressões do Ministério Público regional da Baixada Santista. O motivo é a série de reportagens escrita por ele que mostraram a existência de grupos de extermínio na Baixada Santista. Nas matérias, o jornalista comprovou que policiais, utilizando toucas "ninjas" fazem justiça com as próprias mãos e estão envolvidos em várias chacinas, além de relatar que o Ministério Público se omitiu na apuração das denúncias. A direção do jornal também tem sido alvo de ameaças e chantagem.

O Sindicato dos Jornalistas não poderia deixar de prestar solidariedade ao companheiro Renato Santana e exigir das autoridades que preservem a integridade do jornalista, além de repudiar a atuação do Ministério Público da Baixada Santista que no desvio de suas funções institucionais, pressiona e intimida o profissional e a empresa na qual ele exerce suas atividades profissionais.


Abaixo, a íntegra do documento de solidariedade assinado pelas Mães de Maio da Baixada Santista sobre o assunto, com a qual o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo se une e se solidariza. - VER ACIMA -

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