NOVO MANIFESTO PELA FEDERALIZAÇÃO DOS CRIMES DE MAIO, E FIM DA "RESISTÊNCIA SEGUIDA DE MORTE"

terça-feira, setembro 06, 2011

Movimento Mães de Maio ganha apoio em Ribeirão Pires na luta contra grupos de extermínio de jovens

Grupo Santista veio ao município para o lançamento do livro “Do Luto à Luta: Mães de Maio”, organizado no último sábado (03/04) pelo blog Lamparina Urbana, com o apoio de entidades classistas e de direitos humanos.

Por Valderez Coimbra


O relacionamento dos santistas com Ribeirão Pires é antigo e histórico, remontando ao tempo em que as terras de Caguaçu davam pousadas para viajantes e mais tarde era fonte de produtos então transportados pela estrada de ferro. A partir deste sábado (03/09/11), os laços ribeirãopirenses com a baixada santista ultrapassaram o perfil econômico e de turismo de mão dupla que tradicionalmente une as duas localidades, para ganhar também o viés da solidariedade.

O Movimento Mães de Maio, por meio do lançamento do livro “Do Luto à Luto à Luta: Mães de Maio”, garantiu mais essa conexão ao estender a Ribeirão Pires o debate sobre a luta de mães e familiares de jovens assassinados pela punição dos responsáveis pelo episódio conhecido internacionalmente como Crimes de Maio. Fato que se deu em maio de 2006, quando em apenas uma semana cerca de 500 jovens da periferia de várias cidades paulistas, boa parte deles e em Santos e São Vicente, foram assassinados por grupos de extermínio compostos policiais.

Uma ação anunciada oficialmente como uma ofensiva das forças policiais do Estado de São Paulo contra os ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital), mas que na prática atingiu majoritariamente jovens pobres, negros e de descendência indígena, sem envolvimento criminal. “Em uma semana, o estado matou mais do que todo o período da ditadura”, denunciou Débora Maria da Silva, mãe do gari Edson Rogério Silva Santos, assassinado no local onde costumava trabalhar.

Vera Freitas e seu esposo João Inocêncio lembram muito bem do dia 17 de maio, quando três dias após o dia das mães perderam o filho Mateus. O jovem havia ido à escola, onde foi avisado da suspensão das aulas, sem justificativa dos motivos. Com o horário livre, seguiu ao encontro de amigos em uma pizzaria, onde foi alvejado por homens encapuzados e sobre motos. Só depois, a família soube que a direção da escola havia sido alertada sobre o ataque que o Movimento Mães de Maio define como “uma cínica e ´mentirosa onda de respostas' aos ataques do PCC. Para o movimento, os crimes de maio revelaram a corrupção entre o crime organizado e agentes do estado desviados da função de proteger a sociedade.

Federalização dos processos – Como Edson e Mateus outros jovens foram vitimados, muitos dos quais ainda figuram na lista desaparecidos. Muitos corpos tiveram como destino valas comuns em cemitérios da Grande São Paulo. “Sem dúvida foi o maior e mais emblemático massacre e um dos mais vergonhosos escândalos da história brasileira recente”, denuncia o grupo.

O movimento ressalta a omissão do governo do Estado e do Ministério Público, que decidiu arquivar o caso. Motivo pelo qual, a transferência das investigações para a esfera federal tornou-se uma palavra de ordem para as Mães de Maio, certas de que não conseguirão justiça em nível estadual.

O grupo também quer a realização de uma audiência pública em Santos com a presença da ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, exclusivamente pra tratar do caso. João Inocêncio lembrou declarações da ministra de que há três meses ela vem procurando o governador Geraldo Alckmin para tratar do caso, mas ainda não obteve resposta. Maria do Rosário fez essa declaração em audiência na Assembléia Legislativa no dia 29 de agosto, evento coberto pelo Blog Lamparina Urbana (http://lamparinaurbana.blog.br/direitos-humanos).

Problema nacional – O Movimento Mães de Maio afirma que sua luta não visa reparação financeira e, além dos crimes de 2006, também repudia toda forma de violação dos direitos humanos. O grupo lembra que o genocídio de jovens por grupos de extermínio com a participação de agentes do estado não é problema exclusivo de São Paulo, estando presente em todas as regiões do país. Destacou os casos da Bahia e do Espírito Santo, onde a ação desses grupos é muito forte. “É desse jeito que o capitalismo trata os jovens pobres, principalmente os negros. É a faxina da miséria”, considerou Débora Silva.

Grupo recebeu solidariedade e homenagens

Em Ribeirão Pires, os depoimentos densos e firmes dos representantes do Movimento Mães de Maio e que resumiram o conteúdo do livro que conta a origem do grupo ganharam a solidariedade dos participantes. O evento foi marcado pela descontração graças à programação cultural que incluiu apresentação do agente de saúde e cantor Luiz Grande, que homenageou as Mães de Maio com repertório que envolveu músicas de Roberto Carlos, Agnado Timóteo e Elvis Presley. Além de duas canções próprias que fazem parte do primeiro CD do artista, com o título de “Pra Fazer O Amor Valer”.

A Associação Ribeirãopirense de Cidadãos Artistas (ARCA) também participou da programação com a exibição do vídeo “Um Zé de Todos Nós”. Produzido com recursos do Ponto de Cultura Cidadão Artistas, o trabalho foi desenvolvidos por representantes da ARCA e alunos da Escola Livre de Teatro de Santo André. O lançamento do livro também foi prestigiado pelas componentes do Encantos do Oriente, grupo de dança do ventre também conhecido pelo engajamento social.

As Mães (e pais) de Maio emocionaram-se com a receptividade dada ao grupo em Ribeirão Pires. “Sinceramente, não esperávamos um acolhimento tão maravilhoso”, contou Vera Freitas, entusiasmada. “Pra nós, esse evento teve um significado multiplicador de nosso trabalho. Ficamos felizes ao ver um público tão carismático e interessado no debate”, comentou por sua vez Débora Silva. Como saldo do evento, ela adiantou que as Mães de Maio já estão agendando retorno a Ribeirão Pires para falar da violência contra jovens a estudantes e professores da cidade, a convite da coordenadora regional da APEOESP (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), professora Elza da Silva Carlos (Elzinha), além de palestras em Mauá e Santo André.

O lançamento do Livro em Ribeirão Pires contou com o apoio do Movimento Em Defesa da Vida (MDV) do ABC, Associação dos Engenheiros e Arquitetos, do Grupo Tortura Nunca Mais, da Conlutas e do Centro de Memória e Resistência do Povo de Mauá e Região. O evento foi prestigiado por representantes de entidades sociais e lideranças sindicais e políticas da região.

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